sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O Cercado de Paula Tavares

PAULA TAVARES
 
O CERCADO
 
De que cor era o meu cinto de missangas,
mãe feito pelas tuas mãos e fios do teu cabelo
cortado na lua cheia guardado do cacimbo no cesto
 trançado das coisas da avó
  Onde está a panela do provérbio,
mãe a das três pernas e asa partida
que me deste antes das chuvas grandes no dia do noivado
  De que cor era a minha voz,
mãe quando anunciava a manhã junto à cascata
e descia devagarinho pelos dias
Onde está o tempo prometido p'ra viver,
mãe se tudo se guarda e recolhe no tempo da espera p'ra lá do cercado
 
in DIZES-ME COISAS AMARGAS COMO OS FRUTOS (Ed. Caminho, 2011)
 
 

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