sexta-feira, 31 de agosto de 2012

MIA COUTO, Sem depois

MIA COUTO, SEM DEPOIS Todas as vidas gastei para morrer contigo. E agora esfumou-se o tempo e perdi o teu passo para além da curva do rio. Rasguei as cartas. Em vão: o papel restou intacto. Só os meus dedos murcharam, decepados. Queimei as fotos. Em vão: as imagens restaram incólumes e só os meus olhos se desfizeram, redondas cinzas. Com que roupa vestirei minha alma agora que já não há domingos? Quero morrer, não consigo. Depois de te viver não há poente nem o enfim de um fim. Todas as mortes gastei para viver contigo. in IDADES CIDADES DIVINDADES (Caminho, 2007)

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